É quase absoluta a afirmação de que, em praticamente todas as cidades do Brasil tres entidades são encontradas com muita facilidade. Trata-se da capoeira, de uma igreja e um campo de futebol.

Essa afirmação está parcialmente correta. A capoeira não é encontrada absolutamente em todas as cidades brasileiras. Certamente em grande parte significativa das cidades. Mesmo tendo seu reconhecimento registrado no Brasil e no exterior como patrimônio, existe uma parcela da população brasileira, não identificada percentualmente, que ainda associa a prática da capoeira, ou como ação de vadio, ou como ação religiosa. Isso se deve muito, ainda em razão da construção histórica, a que foi submetida as culturas afro no curso do sistema escravagista, imperial e republicano no Brasil.

Voltemos ao absolutismo da afirmação. O que podemos afirmar é que onde a capoeira vive, existe a possibilidade da construção de novos caminhos. Existe a construção de redes afetivas de sociabilidade, além da alternativa de um modo de ser e viver. Como disse Mestre Luizão de Boiçucanga, no litoral paulista, a capoeira encurta as condições para a conquista de novos amigos.

O futebol tem essa magia também, e essa entidade sim é a absoluta. Existe território da prática em qualquer lugar, seja um campo com dimensões oficiais, quer um minicampo planejado, ou em meio a solidão da mata. Uma ruazinha qualquer já basta para a agitação em torno de uma bola. O futebol é universal, joga-se até sobre uma mesa.

Já a Igreja, embora combalida e batida. Refiro-me a tradição forçosamente do catolicismo através da catequese. A igreja católica noutros tempos embrenhava-se mata adentro, além de fincar suas bases na urbanidade de capitais e outras cidades. Há um bom tempo a hegemonia da representação romana já sofre com a concorrência de diversas outras orientações cristãs. Mas esse não é o foco.

Não! Ainda não. A capoeira não é absoluta nos municípios. Mas ela está assentada em centenas de cidades no Brasil. Mas nem se pretende que se torne. O que se pretende é a sua prática, autônoma, divertida e libertária.

A capoeira em toda a sua riqueza de dimensões, a igreja com seus hábitos e costumes populares, e o futebol compõem a tríade, que de certa forma representa a riqueza da diversidade cultural de Iracema, e que o historiador Luiz Antonio Simas apaixonado pelas coisas e causas do Brasil miúdo chama de Brasilidade.


Calado
Capoeira Jornalista & Gestor Cultural

 

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