Campinas foi considerada o local para onde negros escravizados e rebeldes eram enviados para castigos físicos. Principal ativo econômico do Brasil junto a cultura do café, a mão de obra escravizada promoveu uma expansão econômica na região de Campinas.
Após um longo período de consolidação e acumulação de riqueza protagonizado pela mão de obra escravizada na produção de café, o país mergulhava sob constantes ameaças de movimentos de negros rebeldes e libertos, fomentados por abolicionistas e por medidas legais que lentamente restringiam a utilização de mão de obra escravizada na economia cafeeira.
Dada a essa realidade nas fazendas da cidade, a revolta e rebeldia do negro escravizado, detentores de ancestralidades cujo saberes de frestas e de resistência manifestavam-se disfarçadamente, seria natural uma resposta ao regime em vigor. A partir dessa realidade, o batuque surge como alternativa em toda dimensão da vida dos negros.
As leis que restringiram 69 o comércio e exploração de negros escravizados no Brasil como a Lei Eusébio de Queirós (1850), a do Ventre Livre (1871), a do Sexagenário (1885) foram prenunciando a abolição, que teve como consequência a elevação do custo financeiro e político na manutenção da prática escravagista na economia.
Esse cenário gerou recessão e escassez de escravizado nas fazendas que necessitavam manter a expansão do café, razão que motivou a implementação da política imigratória que se disseminou no Brasil e relegou o negro à margem do trabalho e de condições dignas de vida. O Estado negou a existência digna e próspera do povo negro outrora escravizado e responsável pela produção e geração de riqueza.
Em 1880 Campinas era uma das mais populosas da província com 36 mil habitantes, praticamente o mesmo contingente de São Paulo. O encarecimento da mão de obra escravizada propiciou a inserção de trabalhadores imigrantes. Em 1882 aparecem os primeiros registros da chegada de trabalhadores europeus com bilhetes de viagens pagos pelo governo paulista. O governo fundou na capital a hospedaria de Imigrante, instituição destinada a acolher os homens, mulheres e crianças, antes de encaminhá-las para as fazendas produtivas do interior (Abrahão, 2018, p.35).
NETO, Luciano Medina. A Capoeira como expressão do batuque na cidade de Campinas sob a perspectiva decolonial. 2024 [s.n] Dissertação Dissertação Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, São Paulo 2024