Em janeiro de 2003, o governo brasileiro, reconhecendo a importância do povo africano que serviu de mão de obra para os ciclos econômicos no Brasil, contribuiu para a promoção da aculturação, criando a Lei no. 10.639, que vem ao encontro das necessidades do povo afro-brasileiro, incluindo na educação escolar o tema dos movimentos e da história da cultura africana.
Essa lei é um pequeno passo dado na promoção da igualdade social e fruto da luta e conquista de um povo oprimido. Porém, o que se percebe é que mesmo com essa lei ainda é muito difícil ser capoeirista em uma sociedade capitalista.
Embora a capoeira seja um dos elementos da cultura popular afro-brasileira, os capoeiristas possuem dificuldades em sobreviver contando apenas com a renda proveniente da arte praticada. No Brasil, encontra-se grande maioria de mestres de capoeira que sobrevivem e convivem com crises econômicas e necessidades financeiras.
Os capoeiristas se empenham muito porque para atingir uma formação são necessários anos de prática, de investimento e de determinação, e é difícil atingir um reconhecimento na modalidade de capoeira sem viajar, fazer cursos, treinar, frequentar rodas além dos eventos regionais da modalidade.
O capoeirista também não pode realizar um bom trabalho se não tiver convivência com outros praticantes da arte, e o mestre de capoeira precisa estar próximo dos alunos para que seu trabalho possa fluir bem. Caso ele não possa estar presente, mesmo assim precisa de alunos responsáveis e de sua confiança, que tenham a aceitação dos companheiros capoeiristas, para poder dar continuidade ao seu trabalho.
Assim, a maioria dos capoeiristas vivem de sua dedicação pela arte, tendo recursos limitados para manter seus gastos pessoais, e optando entre fazer trabalho com seu grupo ou viajar.
Cada capoeirista procura planejar em busca do seu reconhecimento social, e essa tarefa é de caráter estritamente individual, sendo realizada de acordo com suas experiências e perspectivas vividas e desejadas.
O capoeirista sabe que não pode simplesmente deixar de se aperfeiçoar, e que as viagens, os cursos e os eventos são fundamentais para ele se atualizar, além da oportunidade de obter reconhecimento e aceitação.
A atualização tem por objetivo alcançar crescimento e desenvolvimento.
No entanto, independentemente dos seus estilos, com o passar do tempo e apesar da sua dedicação e aplicação à arte, os educadores culturais, mestres de capoeira, sentem o reflexo da situação socioeconômica e aí precisam decidir por se manter ou mais ou menos atuantes na prática da capoeira.
Há casos em que o atleta abandona a arte da capoeira por definitivo, passando a se dedicar a outras atividades profissionais, e outros em que o atleta continua praticando capoeira, porém treinando com o mestre sem o compromisso de ser um futuro multiplicador de conhecimentos culturais.
Para os capoeiristas que não conseguem sobreviver somente da arte, mas que acreditam na responsabilidade cultural, possuem outras formas de renda e arrumam tempo para dar aulas. Normalmente, possuem aceitação profissional, e a capoeira é praticada como atividade extra, podendo a qualquer momento viver dela, montando seu próprio local.
Mestre Biro – Capoeira e Escritor
Autor dos livros, Capoeira, cultura que educa, o Carroceiro e a Irmandade