Capoeira Beira Mar, Mestre Tarzan

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No cento da Foto Mestre Tarzan na cia de Mestres Maya, Cícero, Claudio, Lobão e Nantanael. Foto Luciano Medina

Academia de Capoeira Beira Mar, Mestre Tarzan

Na metade nos anos 80 em Campinas, a academia Beira Mar de Mestre Tarzan era umas das principais referências para quem estivesse com o objetivo de se iniciar na capoeiragem. Como aluno do então professor Irandir, e em sua companhia fui em várias rodas na Beira Mar, além de assistir a um campeonato interno vencido pelo Instrutor Luizão cordão azul na época.

O processo de aprendizado na capoeira se confunde com a da vida. É a partir das experiências fora do ambiente familiar e escolar que somos direcionados para vida que sonhamos ser boa. É uma espécie de extensão daquilo que somos confrontados nas ruas diariamente quando criança e adolescente. A malícia, a esperteza, a malandragem são aprendizados que introjetamos no consciente e inconsciente que passam a nos orienta de uma certa forma, cotidianamente.

Pois bem, a iniciação no universo das caminhadas na capoeira começou quando eu sequer nem cordão verde tinha para amarrar a calça.  Na ocasião usava uma calça de estopa que minha vó costurara para eu aprender os ritos da capoeiragem no salão comunitário do Parque Santa Bárbara.

Como parte do processo pedagógico e malandreado da capoeira Irandir nos levava ao menos uma vez no mês às sextas-feiras na roda da Academia Beira Mar na rua dos Bandeirantes no charmoso e nobre bairro do Cambuí. Perceba, para um adolescente habituado as nuances das ruas da periferia se deparar com uma movimentação até então atípica num bairro de classe média alta, tudo aquilo era novo e surpreendente. Assim como foi e continua sendo para muitos jovens no Brasil adentro, o contato com o novo, o desconhecido, o diferente. A capoeira te proporciona isso com frequência.

E era assim, as vezes em que pude participar e que fora autorizado participar, a convivência com Mestre Tarzan, Mestre Cicero, Kito, Salvador, Milton, Rubinho, instrutores Luizão e Daniel Gaguinho se consolidava sem que eu soubesse, evidente, num processo iniciático na tradição da capoeiragem, em que o primeiro grande movimento fora do espaço normativo da academia, foram as visitas, os jogos, e depois, as viagens para vadiação e aprendizagem em outras cidades e Estados.

A capoeira Beira Mar se configura como a segunda grande experiência nesse campo da educação popular e informal. |Para um garoto de 13 anos é um despertar para atitudes das mais diferentes no campo do conhecimento, além da instigante posição questionadora, típica da aprendizagem. A capoeiragem é assim, abre a mente, os horizontes, como Esú, abre os caminhos.


Luciano Medina é Capoeira Jornalista e Gestor Cultural

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