A primeira roda, uma construção simbólica da capoeiragem contida na memória e elaborada através de uma crônica.
Nada na vida de ninguém é por acaso. Nada acontece sem que se aprenda e que se possa se instruir, mesmo para uma criança de 5 anos de idade. Os especialistas podem dissertar sobre essa condição.
O fato é que diante de um evento concreto e marcante, é possível que se desencadeie uma série de eventos subsequentes que pode responder certamente sobre o presente de uma criança. Para cada pessoa sempre existe um fio condutor que a norteará vida afora, quer de forma direta ou indireta.
Pois bem, na altura mediana de meus 46 anos posso descrever o momento exato em que os campos energéticos dispostos naquela tarde de inverno na Escola Municipal Doutor João Alves do Santos na periferia operária de Campinas exerceram sobre meus caminhos até a presente data.
“A capoeira é escola, a iniciação nem sempre era numa academia. Podia ser na rua, no terreiro, na escola. Diferente do inicio da década de 80, a iniciação nos dias de hoje pode ser pelo Youtube ou Tik Tok”
Vários outros eventos memoráveis vividos naquela escola poderiam ser destacados tanto do ponto de vista positivo quanto negativo, e que exerceram influência na minha formação. Antes de se tornar aluno e usufruir da pedagogia oriunda do ensino formal, o saber de alguma forma já fizera presente na minha pequena jornada.
Antes de chegarmos à cantoria e a contação dessa história de construção epistêmica através da capoeira, dos jogos que me desafiaram e me desafiam até hoje, é obrigatório uma contextualização histórica e afetiva para explicar porque o saber da capoeiragem chega até mim através da escola. Na sequência, por força da relação familiar, e somente depois, muito tempo depois, a inserção na Academia de Capoeira Arte Brasileira do professor Irandir ( In Memorian).
Comecemos então com uma apresentação de capoeira com facões e cachorros-quentes numa festa junina realizada numa quadra de cimento batido, na Escola Municipal Doutor João Alves dos Santos no bucólico, frutífero e encantado Bairro Boa Vista na promissora cidade de Campinas em 1980.
Esse fato inicia a trajetória da minha vida na capoeira. De lá para cá, são muitas histórias, muitos jogos nas memórias que serão compartilhados. Porque não são somente lembranças individuais, trata-se de um processo histórico de uma coletividade que até hoje graça nas ruas, academias e centros culturais ensinando, preservando e valorizando a cultura popular que é a capoeira. E são muitos, posso narrar de antemão que Mestre Mauro, Mestre Irandir (In Memorian) e Mestre Cícero se enquadram nesse processo. Saravá povo da capoeira. Salve a capoeiragem.