Na verdade, não se trata somente de uma simples ou singela metáfora. A ginga quer na capoeira quer na rua transcende a delimitação determinante de um espaço. Ela transcende também a dimensão circular da roda, da gira na capoeira e no candomblé, no samba de roda e na cantoria de quintal.
A ginga nesse pequeno ensaio se corresponde a capoeiragem, à luta das pernadas e a labuta nos encantos da criatividade, como forma de sobreviver ou de supraviver como classifica Luiz Rufino e Luiz Antonio Simas no livro digital Encantameto sobre a política da vida.
Mas afinal, o que se diz sobre a ginga. De acordo com a página 805 do Aurelião Editora Nova Fronteira de 1984, “Trata-se de um movimento fundamental, do qual partem todos os golpes ofensivos e defensivos, em que o capoeirista, agitando-se sem deixar de manter à base de apoio, em conjugação com as mãos, procura iludir e desnortear o adversário. “
Pois bem, num passado não muito distante, essa ação de iludir e desnortear era tipificada no código penal como uma ação transgressora e ilícita, passível de pena de reclusão na ilha de Fernando de Noronha em Pernambuco, ou na Ilha Grande no Rio de Janeiro.
“É possível afirmar sem muito esforço intelectual e ontológico, que se tratava como ainda se trata, de um movimento de luta, por dignidade e pela vida”
Ao refletir os novos tempos e as expressões da contemporaneidade pós moderna, e sua imbricada herança colonial é correto, sem sombra de dúvidas afirmar que; gingar amplia a dimensão da sua ação e de seu resultado quando deslocado no espaço simbólico e circular da roda. Gingar como capoeirar são detentores de dimensões plurais. A conexão com a educação e o aprendizado constituem um ativo singular, que cada individuo traz consigo na coletividade,.
Gingar na acepção funcional do termo é sinônimo de capoeirar, que por sua vez significa lutar, dançar, cantar, tocar e transgredir padrões impositivos e normativos, para diante disso sorrir ironicamente à realidade. Gingar fora dos padrões, inclusive o circular, é abrir caminhos para as diversas outras formas de capoeirar.
Portanto, Capoeirar é (re) existir como outrora os corpos escravizados em diáspora re (existiram) reinventaram-se. Parafraseando a máxima, e emprestando o pensamento por ora nessa crônica despretensiosa vos digo: Capoeiro, logo existo.
Luciano Medina (Calado)
Capoeira & Jornalista