Entrevista realizada em 2013 para a Revista O Capoeira. Mestre Cícero é um representante da capoeiragem há mais de 30 anos. Viajou por todo o Brasil e no exterior, onde coordena diversos formandos.


Mestre Cícero Grupo Cordão de Ouro de Campinas

Cícero Gabriel Pinto 54 anos, o Mestre Cícero, natural de Cianorte no estado do Paraná, antes de conhecer a capoeira trabalhava como motorista. Em 1986 começa a dar aulas e se de- dica a estudar e aprender a capo- eira com os mestres mais antigos. Há mais de 30 anos no mesmo endereço, no centro tradicional de Campinas, Cícero transmite aos seus alunos toda bagagem de conhecimento acumulado em anos de rodas e eventos em que foi convidado participar, e foram muitos tanto no Brasil como no exterior. Abaixo um rápido bate papo com Mestre Cícero.

Quando chegou a capoeira na sua vida? Foi em 1980 e está até hoje. Porque a capoeira? Vi na capoeira uma forma de diversão e depois como uma profissão, meu meio de vida

Quando começou a dar aula? Em 1986

Há quanto tempo no centro de Campinas? Estou aqui há 21 anos

Quais as grandes lembranças na capoeira? Bons momentos, as rodas, a academia funcionando legal, grandes apresentações e grandes eventos.

E as rodas com grandes capoeiristas? Tive um privilégio de dividir rodas com João Grande, João Pequeno, Suassuna, Mão Branca, Paulinho Sabiá, Mestre Gato RJ. Foram muitas viagens para ensinar a capoeira tanto no Brasil como fora do País? Desde 2001 para EUA, Europa, Hawai, na Ilha de Guam no oeste do Pacífico, um território norte americano. No Brasil a maioria dos estados.

Qual a orientação aos capoeiristas que querem chegar a Mestre? Bastante humildade, conhecer os velhos mestres. Saber as histórias e o comportamento dos velhos mestres, saber as cantigas, os toques de berimbau. Tem que saber cantar, saber tocar. Parece simples, mas é muita coisa para gente aprender e aprender direito. Para isso só buscando através das rodas, através dos conhecimentos dos velhos e grandes mestres da capoeira.

O Pro Capoeira está promovendo o debate sobre a regulamentação da atividade do capoeirista a nível nacional. O que senhor acha, pode ser benéfico para o capoeirista? É bom regulamentar, mas precisa saber em que sentido. Ela tem que aparecer como profissão, a maioria a leva como profissão. A capoeira e o capoeirista já faz muito trabalho, trabalho de inclusão social, cultural, esportivo, com a regulamentação talvez, deveria haver o reconhecimento do estado

O Iphan reconheceu o oficio do mestre de capoeira no livro de registros dos saberes, qual o significado disso para os capoeiristas? A maioria não sabe disso, e não sabe do significado disso, eu mesmo não sei. Não tenho nenhum conhecimento disso.

Dentro da capoeira, tem algo que ainda não fez e que deseja fazer? Capoeiristicamente estou realizado, mas quando a gente observa os mestres de capoeira, quando chega à minha idade, na idade de alguns mestres bem mais velhos que eu, a gente se depara com o fim. Chegamos ao último estágio da capoeira e muitas vezes o mestre tem que trabalhar para manter a vida e ainda vai para roda de capoeira. Então o sonho é ser reconhecido e não ser reconhecido só em livro, ser remunerado pela sabedoria que ele tem, que ele adquiriu dentro desse tempo na roda de capoeira para poder estar passando para os mais novos, através do seu trabalho social, cultural e assim poder ajudar a melhorar a situação da população. A capoeira tendo seu reconhecimento ela pode abranger uma boa parte da população, da juventude, ela tem esse poder, mas falta recurso. O meu sonho é que o capoeirista seja realmente reconhecido para poder dar muito mais nos trabalhos sociais, culturais. Muitas vezes os capoeiristas trabalham em ONGs, na maioria das vezes sem ganhar nada, trabalham por livre e espontânea vontade sem nenhuma remuneração, só para divulgar e difundir a capoeira. Além da capoeira crescer e conquistar o lugar que ela merece na sociedade, o capoeirista também deve ser reconhecido e assim ter uma proteção legal. Esse é o grande desejo.

 

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