Ética e boas maneiras III

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Às vezes, o mestre promove um evento que conta com a participação de familiares e amigos dos capoeiristas e provoca um atraso para dar início ao evento somente porque ele está esperando chegar outras pessoas de seu interesse. Isso não pode acontecer, porque demonstra falta de consideração para com aqueles que se comprometeram e chegaram no horário estabelecido.

Seria aconselhável o mestre iniciar o evento e, quando chegarem os seus companheiros, ele então os apresentasse ao público.

Outro caso negativo acontece quando o mestre esquece o nome dos seus alunos. As pessoas são sensíveis à sua identidade e esquecer o nome de um aluno significa comprometer a boa imagem do mestre.

O aluno que faz capoeira comenta, sempre com entusiasmo e inúmeras vezes na comunidade, pronunciando o nome do seu mestre, esperando uma acolhida, e quando o aluno percebe que o mestre não se lembra do seu nome tem ali a sua primeira frustração na capoeira.

Guardar o nome do aluno é importante, porque além de ressaltar a sua identidade, exprimi  a sua aceitação no grupo em que está.

Muitas vezes, na academia, ele encontra novos alunos com o mesmo nome e para diferenciar e facilitar a identidade, o mestre batiza seus alunos com um apelido, o que é muito comum acontecer.

Os apelidos devem ser dados sem que denigram a imagem do aluno nem cause desconforto, e jamais devem apontar algum fator de deficiência que leve o aluno a ficar envergonhado e constrangido.

Segundo o conhecimento dos saberes populares, os apelidos na capoeira surgiram de diferentes formas e necessidades, e uma delas é que os capoeiristas precisavam esconder sua própria identidade.

A capoeira, como qualquer manifestação africana, foi proibida no Brasil, sofrendo forte repressão social e, por isso, os capoeiristas eram perseguidos e, quando descobertos, iam presos e deportados por atos de vadiagem. “Vadiagem é um termo preconceituoso para chamar os negros que ficavam à toa”. Muitos negros conseguiam a alforria, mas não conseguiam empregos nem aceitação social, pois nos séculos XVII, XVIII e XIX, o negro no Brasil ainda era visto como mão de obra escrava.

Outras vertentes apontam que os apelidos foram dados pelos feitores para identificar e diferenciar os negros escravos.

Ainda outra linha aponta que os apelidos na capoeira surgiram com as madrinhas de batismo, Mães de Santo, pessoas representantes espirituais da religião afro-brasileira, que tinham poder de batizá-los e dar-lhes um apelido que os identificavam na sociedade da capoeira.

Atualmente, é o mestre que apelida seus alunos e, caso eles já tenham um apelido, este mesmo é aproveitado e introduzido na sociedade capoeira. De maneira geral, é prudente que o mestre e educadores respeitem o posicionamento do aluno.

Os capoeiristas sempre buscaram se adaptar à realidade, procurando compreender a situação social em que se encontram, articulando estratégias para vencer o preconceito, a discriminação e a perseguição dos opressores.


Mestre Biro – Capoeira e Escritor

Autor dos livros, Capoeira, cultura que educa, o Carroceiro e a Irmandade

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