Em 2013 Mestre Bigo concede um pouco do seu tempo para contar sua trajetória na capoeiragem.

Mestre Bigo na roda do gueto em Campinas

Discípulo de Mestre Pastinha, Francisco Tomé dos Santos Filho 67 anos, o Mestre Bigo, também apelidado de Francisco 45, natural de Vera Cruz, Ilha de Itaparica-BA conta como conheceu a capoeira e mestre Pastinha. De cabelo e barba branca, voz serena e tranquila, tem nas passadas a natureza da ginga e nos olhos, a malícia e a sabedoria para uma rápida leitura do ambiente. Esses são traços de quem ao longo da vida soube aprender e aprimorar o conhecimento deixado pelo velho mestre Pastinha. O encontro com Mestre Bigo ocorreu na escola de Capoeira Angola Resistência em Campinas-SP e na data do aniversário de Mestre Pastinha.

Quando o senhor conheceu a capoeira? Eu conheci a capoeira na década de 50 (1954) quando vi Mestre Pastinha fazendo uma exibição dentro da base naval da Marinha. Meu pai era funcionário da marinha quando da chegada de um navio de guerra estrangeiro dentro da base. Eles queriam conhecer a capoeira. Meu tio Agnelo era segurança de Juracy Magalhães e conhecia Mestre Pastinha, então meu pai falou com meu tio e meu tio falou com Mestre Pastinha, eles foram lá dentro da base naval fazer a exibição, foi quando eu conheci mestre Pastinha.

Como era a prática da capoeira naquele período? Naquele tempo existia muito preconceito com os capoeiristas, se você fosse namorar uma moça e se fosse capoeirista “era desordeiro” graças a Deus Mestre Pastinha e Mestre Bimba lutaram muito pela capoeira e mudou isso. Eu agradeço muito aos mestres Pastinha e Bimba que nos deixou essa riqueza.

O Senhor tinha dificuldade para treinar capoeira naquela época? Eu tinha dificuldade, eu morava em São Tomé de Paripe. Eu pegava o trem e saltava em Calçada (Largo da Calçada em Salvador) e pegava a ponga, lá o bonde se chamava ponga e ia treinar, só de sábado e domingo.

Quando Mestre Pastinha formou o senhor? Eu comecei a capoeira em 1954, antigamente só registrava o filho ou quando morria ou quando tinha que ir para o exército. Foi o caso da capoeira também. Quando botaram na minha ficha era 1969, foi quando eu vim para uma exibição em São Paulo. Eu João Pequeno, Deodato e mais um amigo. Quando eu voltei me registraram. Eu tenho meu certificado registrado em 1969, mas não tem mestre lá. Mestre Pastinha me deu assim, “Eu diretor dessa academia concedo presente diploma de capoeirista a Francisco Tomé dos Santos Filho”. Não sei se os meus colegas têm certificado de mestre, mas com o meu, eu tô satisfeito. Para começar eu tenho mais orgulho de ser discípulo de Pastinha do que ser mestre entendeu.

O senhor vive de capoeira? Não meu filho, eu sou aposentado paguei o INPS por minha conta. Paguei três anos porque as firmas não me aceitavam mais, como eu já era de idade.

O senhor recebeu algum benefício do estado por ser Mestre de capoeira? Recebi sim, recebi duas vezes, o último foi o viva meu mestre

A capoeira é uma luta, uma dança, como o senhor definiria a capoeira? Ela é dança e é luta também. Na hora da dor é quando se luta, é uma luta muito violenta. Ca- poeira Angola não é violenta, ela é malvada, não somos nós que somos malvados é ela. Ela é perversa, ela só pega na hora certa, ela não tem pressa de pegar o adversário.

E a convivência com os outros capoeiras? É boa, não tenho inimigo, se eu tenho não estou sabendo, graças a Deus sou amigo de todo mundo.

Para o capoeira que ambiciona seguir na capoeiragem, qual a orientação? Que seja uma pessoa educada consigo próprio, com seus alunos, com sua família, não se misturar com aluna, só gostar de uma aluna, só daquela. Agora cata uma, cata outra, aí é complicado, porque a capoeira angola é ciumenta, até a amizade que você tem com outra pessoa ela fica zangada. A capoeira angola é mulher, ela é igual pomba gira, ela te dá tudo, depois ela tira. O que a capoeira angola dá para você, dinheiro, fama, mulher e amizade, depois ela puxa seu tapete e deixa o sujeito no chão.

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