As Crônicas de Mestre Sapato.
De ribeirinho à peão de comitiva. Da comitiva à aprendiz de soldagem na metalurgia, ofício de seu pai. De aprendiz soldador à migrante rumo a cidade de São Paulo. Inicia-se aí a vida na estrada e na rua.
Inicia-se também a percepção da ginga no corpo, nos pés e nas passadas na cidade do Rio de Janeiro, em São Paulo, Recife, Aracaju, interior da Bahia. Em Porto Alegre e no alto do Xingu, entre tantos outros lugares.
A capoeiragem de Sapato foi na verdade uma encruzilhada permanente que o levou a conhecer capitais e os rincões do Brasil. Essas andanças lhe permitiu as mais variadas experiências. Umas das principais foi as pernadas, que se tornou ao longo da sua vida a sua disposição.
“Não se tratava de um capoeirista sistemático, metodológico de academia. Se tratava de um capoeira supravivente da rua, das pensões e noites por onde passou Brasil adentro”
Essa foi sua escola. Como bom capoeira que foi, sabia entrar sabia sair. Sempre alerta sentia a atmosfera da confusão, motivo suficiente para saída à francesa. Confusão só se valesse à pena.
Como bom aprendiz que foi, foi bom professor. Criou laços e vínculos por onde passou. Só fez amigos. Até hoje é lembrado pelo bom papo, a cachacinha e as histórias narradas por onde passou.
Como dito, Sapato aprendeu a capoeiragem da vida, da resistência na rua, nas cidades e com as pessoas igualmente das ruas, igualmente resistentes. Esse é o legado de Sapato. Para lembrá-lo como Pedrinha miudinha que fora, contaremos sua experiência, suas pernadas e sua escola. Por ora, um agradecimento pelo espaço.
Luciano Medina (Calado)
Capoeira & Jornalista