Licença  aos mais velhos e aos mais novos.

Mucugê é uma pequena cidade da Bahia localizada aos redores da Chapada Diamantina distante 450 km da capital Salvador. Ela dá nome, ou a alcunha a um dos grandes cantadores e capoeiras que o Rio de Janeiro já teve, Mestre Mucungê.

Em meados da década de 50 Mucungê migra para a cidade do Rio de Janeiro. A razão da mudança deve ser aquelas de tantos outros migrantes, a busca por trabalho. Percebe que a proeminência da letra n no nome difere do vocábulo da cidade, certamente essa diferença se deve às adaptações necessárias aos novos hábitos e costumes característicos em períodos de traslados e transições. A linguagem no Brasil sofre variações dependendo da região do país.

Mestre Mucungê no berimbau rodeado por Mestres Marrom – Senzala, Cícero CDO Campinas, e pelo historiador Antonio Liberac. Foto 1995 no alto de Santa Tereza Rio de Janeiro.

Mucungê, mestre da capoeiragem carioca deve ter chegado da Bahia com um repertório cultural riquíssimo, uma gramática de cantorias que se somou as existentes no Rio e incrementou ladainhas chulas e corridos, e que de certa forma faz parte do conjunto bens imaterias salvaguardados por todos os detentores dos batuques do Rio.

Tive a sorte de vê-lo tocando e cantando por duas vezes. A primeira foi no encontro de amigos organizado por Mestre Gato do Grupo Senzala realizado no Parque Lage no Rio em 1995. No ano seguinte esteve em Campinas trazido por Mestre Cícero do Grupo Cordão de Ouro, em um evento de capoeira realizado na Escola de Cadetes do Exército.

Cantoria na roda com Mestre Mucungê.

Representante da Velha Guarda da capoeiragem carioca ao lado do lendário Mestre Leopoldina, ambos chegaram a conviver, segundo suas histórias com o que restou de princípios e signos das maltas cariocas, cuja principal características eram as brigas por territórios na região portuária.

Personagens como Manduca da Praia e Madame Satã compunha o acervo de memória que Mestre Mucungê trazia no corpo e nas caminhadas. Com um berimbau na mão, o grande mestre terreirizava qualquer espaço por onde cantava seus corridos e ladainhas. Terreirizou a manhã daquele sábado no Rio de Janeiro no Parque Lage, e a roda foi mágica na acepção mais encantadora da cultura.

Mestre Mucungê faleceu em 1998 deixou um repertório de fundamentos que só é possível absorver através daqueles que puderam conviver com ele nas rodas e fora dela.  E o que ficou é a certeza do compromisso e preservação da sua memória, a valorização dos velhos e novos mestres presentes da capoeiragem e dos batuques.

Saravá aos mestres que se foram. Saravá aos velhos e novos mestres presentes. Obrigado.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui