O Capoeirista e as relações sociais II

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Não basta apenas praticar capoeira na academia, é necessário se envolver e participar das atividades, além de adquirir materiais da modalidade, que são instrumentos pertinentes à arte, além de livros e revistas relativos ao assunto.

Os capoeiristas que apenas se dedicam à arte e não têm nenhum ganho extra, procuram obter apoio econômico de suas famílias ou, muitas vezes, do grupo a que pertencem. O capoeirista que é comprometido apenas com o seu bem-estar na sociedade, por causa de projeto de vida particular, adia o convívio e a interação no meio capoeirístico. Mesmo que se passem anos, ele sempre terá novo compromisso, podendo ser profissional, educacional, familiar; enfim, sempre estará ligado ao bem-estar do regime estrutural capitalista. E caso ele passe por alguma dificuldade que chegue a abalar a sua estrutura, infelizmente, poderá levá-la para a sociedade da capoeira.

Há dificuldades que podem afetar o relacionamento no grupo, o desenvolvimento no jogo, podendo até limitá-lo. O mestre de capoeira, observando tal situação, compreende que os capoeiristas que se prendem ao sistema capitalista e que passam por uma crise econômica, cairão num possível marasmo, levarão desânimo, insegurança e mal-estar para os treinos e para junto do convívio da capoeira. Por outro lado, o mestre reconhece que são estes capoeiristas que alimentam o mercado da capoeira.


“Esses fatos fazem com que o mestre de capoeira seja um administrador com formação baseada nas experiências das práticas de vivências e com sensibilidade e capacidade de perceber as situações econômicas, políticas e sociais do grupo que lidera”


Estando bem socialmente, são eles que possuem o capital para investimento nos instrumentos: berimbau, pandeiro, bijuterias, roupas, além de terem condições para realizar passeios, cursos, impulsionando o mercado.

Indiretamente, os mestres de capoeira aplicam o capital desses capoeiristas para colaborar com as despesas daqueles que não têm condições de manter os seus custos dentro da modalidade na academia. Assim sendo, são eles que patrocinam os capoeiristas que têm tempo disponível para estar presentes nos eventos ajudando a representar o grupo, possibilitando aos capoeiristas que vivem somente desse esporte a adquirir formação, potencial e capacidade para atrair novos adeptos.

Esses fatos fazem com que o mestre de capoeira seja um administrador com formação baseada nas experiências das práticas de vivências e com sensibilidade e capacidade de perceber as situações econômicas, políticas e sociais do grupo que lidera.

Por meio de articulações, ele adapta as diferentes realidades da capoeira e consegue meios e condições para dar continuidade ao seu trabalho. A capoeira convive com o sistema capitalista, o que obriga os capoeiristas a terem suas estratégias de sobrevivência. Eles trocam o valor monetário por benefícios, vendendo a sua imagem que gera valor econômico, trazendo recompensa e satisfação pessoal e social.


Mestre Biro – Capoeira e Escritor

Autor dos livros, Capoeira, cultura que educa, o Carroceiro e a Irmandade

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