A capoeira é um esporte social. Muitos podem conhecer, mas somente alguns desejam aprender e se dedicar, buscando sua essência e filosofia.
Não é um esporte que se aprende de um dia para o outro, começando hoje e amanhã já se tornando mestre, mas demanda longo processo de aprendizagem, que pode se estender por décadas.
A grande maioria inicia a prática de capoeira porque acha legal, interessante e porque faz bem para o corpo e para a mente. Eles participam da sequência de aulas por um determinado tempo até o dia do primeiro batizado; daí, pegam a graduação e passam a se intitular capoeiristas, não dando mais importância à continuidade dos treinamentos.
O mestre procura orientá-los e educá-los para a compreensão do funcionamento das atividades de capoeira. Mas a maioria dos alunos novos chega à academia apenas com a intenção de ter um primeiro contato e pegar a primeira graduação, que é aquela de maior importância, já que abre porta para novas aprendizagens e insere o aluno na sociedade da capoeira.
Ao receber as instruções do mestre, o aluno começa a pensar em sua graduação, reconhece a graduação de seus colegas de academia e, antes de aprender os toques dos instrumentos, ele é capaz de identificar e reconhecer todas as cores da graduação da arte que pratica. Isso é comum, porque um recém-chegado ao mundo da capoeira fica deslumbrado com a quantidade de graduação.
Ele quer conquistá-la, chegar ao topo, ser um ponto de referência. Por um lado isso é bom, estimula a treinar mais, além de projetar as suas aspirações em ser um graduado ou um mestre de capoeira.
O capoeirista que se projeta em outro para ter um ponto de referência, precisa saber que essa projeção deve existir para dar estímulo, não para igualar e comparar. Pois, a partir do momento em que um capoeirista se compara com outro, ele comete dois erros: o primeiro, é que ele deixa de viver sua vida para se igualar ao outro, e o segundo, é que ele pode ser melhor ou pior para si mesmo.
Caso consiga ser melhor, o que é difícil, ele perde o sentido da projeção porque a vida continua e ele terá de se projetar em outro capoeirista, e todo esse esforço pode ser em vão, ficando desacreditado, perdendo a sua identidade, deixando de viver a sua vida e acreditando somente em seus sonhos e ideais.
É necessário que o capoeirista conheça vários outros colegas e novos estilos de jogo e de conduta, podendo avaliar o que é bom ou ruim, peneirar e filtrar o que for positivo, podendo assim utilizar a capoeira para o seu próprio bem.
Por isso, para facilitar a formação do aluno, o mestre procura envolvê-lo em treinamentos, viagens, cursos, além de realizar visitas à outras academias e grupos de capoeira.
Quando o capoeirista está envolvido, ele tem a oportunidade de vivenciar fatos inéditos, melhorar sua relação social com a comunidade e identificar-se com os ritmos das rodas, adquirindo mais experiência.
Essa experiência faz com que o capoeirista compreenda e tenha uma visão construtiva e crítica também, ganhando maturidade e aumentando o repertório de desenvolvimento nas rodas.
É importante que os capoeiristas se projetem em outro mais experiente, mas o que irá fazê-lo crescer é o seu envolvimento com a sociedade que pratica e acredita na capoeira.
Mestre Biro – Capoeira e Escritor
Autor dos livros, Capoeira, cultura que educa, o Carroceiro e a Irmandade