Luciano Medina/
Liderança destacada entre os fazedores culturais dos Pontos de Cultura e símbolo da Cultura ViVa
Um dos maiores expoentes das práticas afordiaspóricas do Brasil, o paraibano de Salvador Jaime Martins dos Santos, o Mestre Curió nasceu no dia 23 de janeiro de 1937, na cidade de Patos Pinhares no Estado da Paraíba. Antes de se tornar um dos discípulos mais conhecidos de Mestre Pastinha, o menino Jaime já mandigava as manhas da capoeiragem. A iniciação do Velho Mestre se deu aos seis anos de idade através de sua família. Seu avô Pedro Virício, Curió Grande, seu pai José Martins dos Santos, o Malavadeza e a sua mãe Maria Bispo, todos praticantes da capoeira angola, e integrantes de uma elite tradicional das práticas culturais afro-brasileira responsáveis pelo rito iniciático de Curió.
Oitenta e sete anos completados em janeiro Mestre, Curió é a encarnação das práticas descoloniais no Brasil. Representante de uma das manifestações mais antigas da humanidade, o Doma, Mestre Curió inspirou e contribuiu para a fundamentação do registro e reconhecimento do Ofício de Mestre de Capoeira inscrito no Livro de expressões e saberes do IPHAN,
e certamente para o reconhecimento da capoeira como Patrimonio Cultural da Humanidade. Não se trata de uma exaltação exagerada e nem romantização identitária quando a referência é mestre Curió, trata-se sim de um fato histórico e cultural, corroborado tardiamente por várias universidades do Brasil e do mundo.
Nesse contexto, Mestre Curió se insere como detentor imprescindível para difusão das demandas urgentes que se faz necessário para a sobrevivência de mestres e mestras da capoeira, sobretudo quando comprometidos com os Pontões e Pontos de Cultura acobertados pela Lei Cultura Viva, e vários outros diplomas legais criados nas últimas décadas numa tentativa de reparação histórica aos saberes afrodiaspóricos transmitidos no Brasil, je em mais de 160 países
Há dez anos Mestre Curió capoeirou nas rodas da TEIA da Diversidade realizada na cidade de Natal no Rio Grande do Norte. Esse evento foi promovido pelo Ministério da Cultura em parceria com o Conselho Nacional dos Pontos de Cultura, e teve como objetivo avaliar a execução das políticas públicas do então programa Cultura Viva, bem como propor novos desafios a serem enfrentados a partir daquela TEIA.
Aos 77 anos de idade o velho Mestre soltou o verbo, agradeceu de forma educada a todos e a todas, mas como é sabido, não se omitiu e criticou de forma contundente a burocracia e a falta de alinhamento dos órgãos gestores de cultura com os detentores dos saberes tradicionais. Esse questionamento ficou evidente em sua intervenção no Fórum de Cultura Afro que fora realizado em umas das tendas instaladas no Campus da Universidade Federal do Rio Grande Norte para as atividades da TEIA.
A fala de Mestre Curió mantem-se atual até o presente momento, e os ensinamentos transmitidos através da sua participação na Rádio Amnésia e no Fórum de Cultura se equivale, a uma verdadeira aula de capoeira, de filosofia, sociologia, educação, enfim da aula uma partilha de saberes que ficou marcado na memória de todos os presentes naquela Roda.
Intervenções
Mestre Curió – Cultura Viva parte I
Mestre Curió – Cultura Viva parte II
Mestre Curió – Cultura Viva parte III
Galeria
Mestre Curió na TEIA DIVERSIDADE 2014 Natal RN. Fotos Luciano Medina