Aqueles que escolhem viver dessa preciosa arte sociocultural têm, também, algum trabalho fixo, e paralelamente atualizam-se no meio capoeirístico. Essa atualização precisa ser equilibrada de tal forma que não prejudique os trabalhos com a capoeira.
É comum o mestre ir aos eventos de capoeira e levar alguns alunos e graduados, e assim conseguir tanto mais rendimento na atualização quanto reconhecimento, porque eles estão tendo a oportunidade de se relacionar e de ser apresentados na sociedade da capoeira. E quando o mestre precisa sair para viajar, os alunos compreendem bem mais a importância dessas viagens.
Os mestres procuram demonstrar que estão trabalhando em prol da capoeira e isso traz reconhecimento junto à sociedade que o assiste. Tal reconhecimento forma uma base sólida de trabalho. Além de fornecer bons resultados internos, propicia a aceitação moral da sociedade da capoeira.
Os capoeiristas que possuem força para representar essa arte cultural, quando não buscam atualizar-se, ficam sendo vítimas do seu próprio meio social, que sempre está buscando alguma maneira de polir a arte e a cultura popular afro-brasileira.
Os mestres capoeiristas, que representam um dos preciosos segmentos culturais, podem decidir-se por ser ou mais ou menos atuantes na divulgação da arte brasileira, mas precisam tomar decisões do tipo que acontece quando se está sendo pressionado e a reputação fica em estado de alerta.
Quando o capoeirista não decide pelo amor à luta, à arte e à prática da capoeira, isto demonstra a falta de conhecimento e a insegurança pessoal.
A capoeira dá bons frutos e reconhecimentos sociais e econômicos, mas para que isto aconteça, é necessário que o capoeirista tenha responsabilidade e planeje seu trabalho e sua atuação, para conseguir com mais facilidade os objetivos pretendidos.
É bom saber que a capoeira faz parte da sociedade, porém a sociedade, que é capitalista e visa lucro, não compreende a riqueza que ela possui.
O capoeirista só vai recuperar a dignidade perante a sociedade quando perceber que está lutando contra um preconceito imposto pelo regime capitalista, em que se valorizam mercadorias e bens capitais e se despreza o saber cultural.
Sobreviver da capoeira no Brasil, hoje, é uma grande prova de que os capoeiristas não precisam comprar a ideia de serem felizes por causa dos bens materiais e do capital, mas sim por terem reconhecimento social e amor a uma causa justa: a luta pela liberdade!
Mestre Biro – Capoeira e Escritor
Autor dos livros, Capoeira, cultura que educa, o Carroceiro e a Irmandade