Alguns capoeiristas possuem atividades espirituais criativas e convivem na sociedade da capoeira oferecendo a sua sensibilidade, criando instrumentos e peças, dando apoio material e instrumental para aqueles que praticam a capoeira.

Os artistas são dotados de dom especial e o amor pela arte o faz fluir a sua intuição de criação, eles criam e isto lhe possibilita a descobrirem e produzirem novos instrumentos que são as peças artísticas da modalidade capoeira.

As técnicas são necessárias para a produção dos instrumentos de capoeira, mas não o único meio para que os instrumentos tenham a perfeição de alcançar a maturidade de seus sons.

Quem já ouviu falar do berimbau do mestre Waldemar da Paixão que, ao produzi-lo, utilizava seus conhecimentos, suas tradições e suas superstições?

Por exemplo, a biriba, matéria-prima para se fazer o berimbau, era colhida na mata, colocada para secar na sombra, e após sete dias de descanso o mestre a “preparava” para montar o instrumento. Ele possuía todo um ritual e ao apanhar a biriba já reconhecia qual tipo de berimbau produziria: violinha, berra boi ou médio.

Esse dom de sentir e de fazer uma peça crua transformar-se em outra que produz som que passa sentimento, harmonia e vida quando está sendo tocado, é fundamental para que a arte da capoeira sobreviva, pois são os instrumentos que fornecem os ritmos e as composições melódicas das cantigas.

O mais importante para um artesão não é o seu desenvolvimento dentro do jogo de capoeira, mas o prazer de criar um instrumento para dar alegria e assegurar o axé nas festas e manifestações culturais. Ele necessita ter conhecimento histórico daquilo que está produzindo, além da missão e do significado.

Ao reconhecer o sentido dos instrumentos, ele transforma valores em realidades, além de assegurar a tradição cultural. Não é muito fácil imaginar que a capoeira seja vivenciada também na criação e na imaginação desses profissionais!

Depoimentos de artesãos que produzem com amor e respeito dizem que tudo o que eles fazem têm um ritual e que até as condições climáticas influenciam nas peças. Muitas vezes, no dia a dia de trabalho, eles ficam tão compenetrados no que estão produzindo, que já conseguem antecipar a alegria de estarem jogando capoeira. Eles produzem o berimbau já imaginando qual som ideal esse berimbau terá nas rodas, e é assim também com o atabaque, o pandeiro, o reco-reco e o agogô.

Os praticantes da modalidade capoeira têm muito que agradecer aos artesãos, devendo respeitá-los como mestres porque se o capoeirista não souber produzir os instrumentos ou não tiver tempo suficiente para isto, ele terá de adquirir um produto pronto e dependerá dos serviços de terceiros.

Os instrumentos de origem africana, para ter valor cultural, devem ser confeccionados por artesãos que conheçam os significados das expressões de capoeira e que saibam respeitar os fundamentos da arte.

Os artesãos conceituados procuram, religiosamente, produzir os instrumentos respeitando os fundamentos e a ideologia da arte, para que estes alcancem a harmonia e transmitam bem-estar em seus sons musicais.


Mestre Biro – Capoeira e Escritor

Autor dos livros, Capoeira, cultura que educa, o Carroceiro e a Irmandade

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