A revelia de uma sociedade coxinha
Vamos de pé pelo pé
Fazendo a rebeldia à nossa maneira
O berimbau arqueado vibra com energia
A nossa cultura ancestral tem encanto
Quando mostra seu rumbê
E dispara palavras de sabedoria
Aprendizado organizado pelos mais velhos
Viva a nossa maestria
De quem olha para o oceano
Mas entende a potência de resistir
A burguesia que fede e que nos mede
Por aquilo que não somos
Com a gente aprenderam a pescar
Em águas doces e salgadas
Aprenderam a plantar e a construir
A medicina veio até gente analfabeta
Para compreender o poder das folhas
“Somos à revelia de um mundo coxinha
Viemos do rock e trouxemos a rebeldia
Mas foi na cadência
Criado por mestre Pastinha”
Que aprendemos a filosofia
Para nós empoderar
E chamar a ancestralidade
Com o toque do tambor
Na magia do berimbau
Somos subversivos porque aprendemos a sobreviver
À margem de uma sociedade falida
Onde ser violento, homofóbico e machista
É conceito de família de bem
Que vive o seu dia a odiar o diferente
E querer obrigar muita gente
A viver ã maneira deles
A capoeira nos liberta o corpo e a mente
E está registrado na história
Contada por boletins policiais
Como o preto garantiu sua existência
Lutando contra essa gente
Que só pensa em nós matar
Quando não pode mais explorar
Oluandei Diá Ngola
Poeta, capoeira, angoleiro, é do candomblé. Na política é de esquerda.