Quando uma pessoa adota uma árvore próxima de uma floresta, ela cuida da árvore, aduba a terra, rega a planta e faz as podas corretamente. Um certo dia, quando a árvore já está madura e em condições de dar frutos, acontece um incêndio na floresta, próximo ao lugar em que ela está e, para salvar a sua árvore, o jardineiro sábio terá que apagar o fogo da floresta, senão todo trabalho ao longo dos anos será em vão.

Este pequeno conto se compara com alguns trabalhos de capoeira, ocasião em que o mestre valoriza apenas o aluno que tem potencial, esquecendo-se dos demais.

Às vezes, por motivação e reconhecimento do talento, o mestre dá atenção para a minoria e esquece a maioria. Porém, quando a maioria percebe que não está correspondendo às expectativas do mestre, tende a criar murmúrio e se divide em pequenos grupos internos que se mobilizam e muitas vezes se desligam do grupo. Esses alunos deixam de treinar na academia e partem para outros grupos, a fim de dar continuidade ao seu desenvolvimento.

O mestre de capoeira deve ficar atento para não deixar que os alunos que se destacam sejam o centro das atenções e se sintam os mais importantes, desestimulando os outros alunos que também são talentosos e têm facilidade de aprender.

Porém,

muitos capoeiristas que têm facilidade de aprendizado, às vezes, não se esforçam em aumentar suas potencialidades e nem buscam mais envolvimento, e, por falta de  atenção do mestre, acabam desestimulados e deixam de participar da capoeira.

Por outro lado, outros são estimulados por receberem os cumprimentos por aquilo que estão realizando, e enquanto estiverem recebendo elogios querem permanecer na roda, demonstrando as suas habilidades. E, quando os elogios diminuem, aumentam o ritmo de treino, mantendo-se presentes e atuantes.

O mestre aproveita os elogios como um incentivo aos seus alunos, pois isso faz com que eles se sintam mais animados, ajudando-os na perseverança aos treinos.

Algumas vezes, acontece do aluno treinar, tornar-se apto para realizar inúmeros movimentos, além de adquirir domínio com os instrumentos, e não ser mais elogiado pelos visitantes que o assistem. Se este aluno for imaturo, ele acreditará que a sua capoeira não está correspondendo às expectativas da plateia, e esta percepção acontecerá porque ele não aprendeu a jogar capoeira para si mesmo, mas sim para os outros.

Ele fica desestimulado e pode chegar, até mesmo, a parar de praticar a capoeira por desconhecer o que se passa com os convidados que o assistem, ansiosos de movimentos diferentes na roda, pois os repetitivos e sem novidade tornam-se desinteressantes e monótonos.

O mestre, ao perceber a potencialidade em seus alunos novos, deve procurar colocá-los próximos dos alunos mais velhos, apresentando-os na sociedade da capoeira, levando-os em rodas, batizados e convenções, proporcionando o acesso e a oportunidade de conhecerem outros capoeiristas, aumentando sua interação e reconhecimento social.


Mestre Biro – Capoeira e Escritor

Autor dos livros, Capoeira, cultura que educa, o Carroceiro e a Irmandade

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